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A diferença entre o estímulo e a pressão sobre os filhos

Atualizado: 20 de jul. de 2021



“Guardo meus boletins com notas 10 até hoje”! “Na sua idade eu era o melhor aluno da sala”. “Não merece ir para o aniversário porque tirou apenas nota 7,0”. “Você consegue muito mais! Confio em você”. “Sua obrigação é apenas estudar, tem que se sair melhor nas provas”. “O mundo é para os espertos, filho”. As crianças ouvem essas frases muitas vezes durante a sua infância e adolescência. É claro que os pais querem o melhor para os seus filhos, e quando os “incentivam” com frases como essas, têm o objetivo de fazer com que se superem, com que se preparem para o mundo competitivo no qual estão inseridos, porque existe um fantasma que persegue os pais, principalmente na infância dos filhos, que se chama medo. Medo de que não sejam “nada” na vida, medo de que não passem no vestibular, de que não entrem na Universidade, de que não façam o melhor curso (pelo julgamento dos pais), de que não sejam bons profissionais, bons líderes, bons, bons, bons... Só que este excesso de “incentivos” para que se tornem muito bons pode se tornar um grande problema no futuro.

A verdade é que, na maioria dos casos, quando engravidamos projetamos um filho e arquitetamos todos os planos para que nosso projeto aconteça. Imaginamos uma criança como gostaríamos de ser, praticando os esportes que sempre sonhamos, com as oportunidades que não tivemos, o sucesso que já alcançamos ou o que desejaríamos ter alcançado, e lutamos (às vezes bravamente) para que isto aconteça. O problema é que estamos lidando com vida, e com a vida de outra pessoa, que não vem para o mundo como uma caixa vazia, na qual inserimos 100% do conteúdo. E na maior parte dos casos não refletimos e sobre os desejos dos nossos filhos, mesmo que ainda sejam crianças, porque algumas coisas eles têm sim o direito de opinar, mas por ignorância ou repetição de atitudes do passado, em vez de ajudar, acabamos criando adultos complexados e tristes, sem a menor capacidade de aceitar os próprios erros, porque a vida inteira ouviram, mesmo que subliminarmente, que precisavam melhorar, que eram capazes de tirar uma nota melhor, de se apresentarem com mais desenvoltura, de se destacarem no trabalho em grupo... E de tanto ouvir que conseguiam ser melhor, fazer melhor, se doar mais, eles acabam acreditando que não são bons em nada... É triste, mas parece lógico não é? E imagino que agora você deve estar se perguntando sobre como agir: Deixar de lado? Parar de cobrar ou de incentivar? É difícil perceber o tênue limite entre o incentivo e a pressão, e o primeiro conselho que posso dar é: conheça seu filho, pense no seu filho. Não o compare ao colega de sala, ao filho do seu amigo, ou ao filho que você projetou quando engravidou. Isso se chama atitude, condução.

Existem muitas coisas importantes para a formação de um ser saudável, mas ele não precisa fazer tudo ao mesmo tempo: praticar um esporte de concentração, fazer aulas de reforço escolar para tirar notas 10, ser um excelente jogador de futebol, praticar xadrez para desenvolver o raciocínio lógico, natação para não se afogar, inglês para ser bem sucedido, mandarim porque é a língua do futuro, aulas de violão para se socializar... Você, adulto, maduro, com personalidade formada, aguentaria a pressão de fazem “bem” tudo isso? Talvez sim, mas nem todos os adultos aguentariam. Aí está a diferença entre estimular e pressionar. A referida linha tênue que separa essas duas ações está baseada no conhecimento da criança, e no bom senso entre desafiá-la e reconhecer seus esforços e seus limites.

Cito a leitura recente de um texto de Madeline Levine, uma Psicóloga que mora na Califórnia, autora de quatro livros sobre comportamento, dentre eles “The Price of Privilege”, em português “O preço do privilégio”, um livro cuja temática fala de como a pressão dos pais e a vantagem material estão criando uma geração desconectada e infeliz. A autora fez um verdadeiro estudo sobre as doenças psicológicas que afetam adolescentes de famílias com altos poderes aquisitivos. O livro baseia-se não só em seus 25 anos de experiência no tratamento desses adolescentes, mas também em suas consultas com colegas em torno dos Estados Unidos. Madeline diz que se os adultos se conectam com as crianças e participam das suas atividades, o processo é chamado de “estimulação”. Mas por outro lado, se os desejos pessoais são mais importantes que o bem-estar da criança, se suas atividades as incomodam verdadeiramente, fazem com que deixem de brincar e curtir aspectos da infância essenciais à sua formação, o processo é chamado de “pressão”.

Importante mesmo é que os pais a esclareçam uma definição de sucesso que esteja em linha com seus próprios valores, mas também com os interesses pessoais e habilidades de seus filhos. Perguntar a eles o que sentem quando vão às aulas ou o que gostariam de fazer quando saem da escola. Permitir o ócio, ensinar que curtam o “tédio”. Desta forma, criaremos futuros adultos que podem superar os obstáculos da vida, que podem utilizar o seu potencial máximo sem se comparar com os outros e, acima de tudo, podem ser felizes com o futuro que escolherem.

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